25 de dez. de 2011

Como estrelas na terra




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(Você já leu a postagem anterior desse filme? Ainda não? Então clique aqui e leia!)

Conforme prometido, disse que este próximo post traria minha crítica do filme. Vamos começar dizendo que o nome completo do filme é "Taare Zameen Par - Every Child is Special", o que significa, exatamente, "Estrelas na Terra - Toda Criança é Especial". Embora o filme fale diretamente sobre o caso de uma criança, ele é uma mensagem para o mundo sobre o verdadeiro papel de um educador e formação de um novo ser humano - veja que não digo professor, mas educador. Ao afirmar no título que toda e qualquer criança é especial, que são como estrelas na Terra, a proposta é trazer a idéia de que não podemos negligenciar a diversidade e preciosidade dos projetos de gente de nosso mundo, pois são eles que fazem o futuro.

Mas assisti ao filme sem saber o significado do título. Estava ainda na Índia quando o vi e, pior, vi sem legendas. Mas me segurei pra não deixar as lágrimas escorrerem quando o filme terminou, com vergonha de que as pessoas que estavam por perto me vissem daquele jeito. Bobagem. Nas outras vezes que assisti não deu pra segurar.

Eu vi Taare Zameen Par num momento em que minha viagem pela Índia já impunha em meu ser a necessidade de adaptar-se ao jeito indiano de ser. Eu já havia visto muito (mesmo que muito mais ainda falte por ver) e já compreendia em grande medida o que é ser indiano e fazer parte daquela sociedade tão não-fácil de se viver. Já havia visto alguns filmes indianos, antes de ir à Índia e enquanto lá estive, mas, de repente, assisti ao Taare Zameen Par. Me assustei com aquilo. O filme vai muito além de tocar na sensibilidade de ser criança e educador; ele manda uma mensagem de nosso papel como ser humano - o que na Índia não é tarefa fácil. Aliás, é bom que eu diga, poucos são os próprios indianos que realmente reconhecem o valor desse filme, muito poucos.

Em muitos momentos, Aamir Khan optou por utilizar recursos caricatos para os personagens do filme, sobretudo em relação aos professores de ambas as escolas por que Ishaan passa. Ainda que personagens caricatos possam trazer um grau de irrealidade para a trama, em Taare Zameen Par a caricatura contribui para aumentar a sensação de sofrimento, opressão e incompreensão vivido pelo garoto disléxico. No conjunto, caricaturas e clipes de música ilustram uma ficção que de irreal nada tem; qualquer semelhança entre a ficção e a vida real é mera coincidência, diz, antes do filme começar. Mas o próprio professor Ram Shankar Nikumbh (interpretado por Aamir Khan) lembra às crianças que Einstein, Agatha Christie, Da Vinci e Tomas Edison eram disléxicos e sofreram na infância - TZP é história da vida real. Antes fosse apenas ficção.

Já que citei os clipes de música, vamos falar sobre eles. Comumente, nos filmes de Bollywood, as cenas de música não costumam exatamente complementar o desenrolar da história, mas aparecem mais como um momento de entretenimento e, recentemente, de expor homens e mulheres em seu ápice de beleza corporal. As músicas nesses filmes são, no entanto, as coisas mais importantes da produção cinematográfica. Para se ter uma idéia, as trilhas sonoras são lançadas cerca de um mês antes da estréia dos próprios filmes - e esta é a principal estratégia de marketing das produtoras. Imediatamente as músicas entram na lista dos mais tocados da semana e todos cantam as trilhas dos filmes que ainda nem viram. Na Índia quase não há espaço para grupos de música, pois o que se ouve vem dos filmes, tal é o peso da produção cinematográfica indiana.

Em Taare Zameen Par, portanto, não poderia ser diferente. No entanto, há uma grande diferença na função destas músicas para o decorrer do filme e como elas são mostradas. A diferença mais importante está no fato de que não há as típicas cenas de dança dos filmes de Bollywood; as músicas aparecem como clipes, mostrando cenas que complementam a história que está sendo contada naquele momento, porém sem diálogos. A primeira a aparecer, por exemplo, mostra a rotina da casa de Ishaan. Num outro momento, Ishaan sai pra rua e anda pela cidade (Mumbai), reparando em detalhes não usuais para uma simples criança de sua idade. Neste momento toca a música Mera Jahan, que, literalmente, significa Meu Mundo. É o que Ishaan vê e reconhece como fazendo parte integrante. Ao voltar pra casa ele elabora o que viu fazendo um desenho - a criatividade artísticas em disléxicos tende a ser mais aflorada, pela sua maneira distinta com que o mundo é compreendido. A música que ficou mais famosa, porém, foi Maa, que significa Mãe, como já disse anteriormente. Quando passa essa música, Ishaan acaba de chegar no internato e sofre demais - sua mãe também. Postarei este clipe pra vocês.

Numa outra música, com o título que dá nome ao filme, vemos o professor Ram Nikumbh em seu emprego na escola pra crianças especiais e depois partindo para a casa de Ishaan, onde irá conversar com seus pais. A música é longa e tão longo é todo esse momento, mas nem percebe-se a música tocar, dada a imensidão de informações passando. Porém, o detalhe mais importante desta passagem está no que faz Ram no caminho até a casa de Ishaan, que não vi indiano nenhum fazendo e nem sequer parando para refletir sobre. No ônibus, o professor ajuda uma mãe com seu bebê; depois, na beira da estrada, paga um chá com biscoitos à criança-empregada do estabelecimento. Em outro momento, andando ao lado da feira, pega a couve-flor que cai no chão. Coisas simples, mas indianos não costumam fazer coisas simples. Simples ajudas, mas indianos não costumam ajudar.

Taare Zameen Par vem também cumprir um importante papel na sociedade indiana. Não se trata de civilizar ou ocidentalizar, mas de trazer um pouco mais de humanidade para o coração hindustani, um pouco mais do senso de individuação, que de nada tem a ver com individualização. Talvez ainda além de mandar uma mensagem sobre o papel do educador, este filme ensina antes o que é ser pai, o que significa e o que implica em ter um filho. Ram Nikumbh, contestando o que o pai de Ishaan disse a ele em certo momento, deixa bem claro o que significa a palavra "cuidar". E neste momento sublime, alerta para que não aconteça com Ishaan o que acontece com as árvores das Ilhas Salomão, que morrem após as pessoas ficarem gritando à sua volta. Aamir Khan fez uma obra-prima - e talvez a última também. Será difícil que ele faça um filme tão bom como esse de novo.


TZP arranca lágrimas até de quem nem conhecia o verbo chorar. Não deixe de assistir.



Aqui vai o link oficial do filme: http://www.taarezameenpar.com/